terça-feira, 15 de novembro de 2011

A manhã Desejada

              Muitos de minha época de criança devem hoje morrer de saudades daqueles tempos de molecagem. Em nossos anos letivos do colégio sempre tínhamos aquela garota que admirávamos, que se por um minuto apenas, nós, simples mortais pudéssemos chegar próximos da ou das Deusas gregas seríamos os meninos mais felizes da escola quiçá do mundo.

              Lembro-me deste período com um quinhão de dor e saudade, pois tínhamos um tremendo respeito pela figura feminina das meninas do colégio, e por mais difícil que fosse se aproximar delas, qualquer encostada de braço que dávamos nas mãos delas já era motivo para fantasiar um suposto ‘namoro’. Recordo-me de uma menina que me apaixonei muito e, se me perguntarem suas descrições ainda às digo que são: cabelos longos e loiros, olhos verdes, pele branca como a neve e pequenas sardas no rosto que lhe dava o ar de musa. Alguns dirão que esse é o padrão de mulher desejada ontem, hoje e sempre, mas rebato tais argumentos porque a nova miss universo é uma mulher de cabelos escuros, olhos castanhos e pele negra. E por falar em qualidades quem disse que mulher perfeita tem que ter tais qualidades.
              Por incrível que pareça, não sei se isso foi sorte ou azar, mas a tal menina causou duas fatalidades em mim, uma foi ter que estudar com ela na mesma sala de aula, a outra é que ela tinha o nome de Deusa grega fazendo jus a sua beleza, o nome dela era Ísis. Nós meninos ficávamos abobalhados com tamanhas qualidades que esta menina carregava, além de ter toda a beleza já descrita também tinha algo que deixava qualquer menino ou menina a admirá-la ainda mais, pois ela tinha um conhecimento literário e geral gigantesco, isto tudo em uma única pessoa e ainda mais nela me atraia ainda mais.
               Em contrapartida temos hoje um cenário deprimente, meninos que antes (digo os de minha época) tinham pouco conhecimento e que não se arriscavam a chegar a conversar com tais garotas, pelo simples fato de ter que responder alguma pergunta sobre a aula de literatura ou esclarecer alguma duvida de outras matérias de uma menina que este gostava, de antemão só de pensar já dava calafrios .E por isso decidíamos manter a distância e se esforçar para conseguir dialogar com tais garotas. Nossa juventude hoje está cada vez mais deixando de lado a beleza que o conhecimento traz às pessoas, não sonham mais com aquela garota linda do colégio, não procuram mais se tornarem pessoas admiráveis para chamar a atenção da sua deusa (se é que ainda chamam as garotas assim), porque o termo dito “carinhoso” hoje é chamar as meninas de “periguete”. E se não usam mais palavras carinhosas é por que o ‘gosto musical’, as novelas e as propagandas em geral hoje às tratam como coisas; e por outro lado também as meninas inconscientemente afirmam o seu valor ditado por tais meios, esta passa de um ser dotado de qualidades e vontades para um mero objeto a ser usado e jogado fora como um material orgânico.
               Sendo assim, tanto garotos como garotas vão crescendo dessa forma, sem referência nenhuma, sem valores culturais algum e, passam dias e anos e a nossa juventude encontra-se em um patamar onde continua dia após dia vangloriando a bestialização do ser humano como algo positivo.
                 Daí, somente quando a nossa juventude voltar a conhecer o que é assistir um bom filme seja ele legendado (hoje odiado por muitos preguiçosos) ou não, e que traga a ordem do dia a racionalização e não mais a irracionalização trazido pelos Transformers, Rambos, e toda aquela parafernália sem valor algum. Quando o prazer dos meninos e meninas for ler livros de poesias para recitá-las as suas musas e aos seus “Aquiles”, ou simplesmente para conhecer um pouco do mundo em que vivem; e que a música traga aos seus ouvidos letras que desmistifiquem o amor, a solidão, a desilusão, felicidade, luta e, que suas conotações critiquem a realidade já vivida pelos seus antepassados e a sua realidade presente. Quando o ser humano aprender que ele é um ser dialético que transforma tanto a si como ao mundo, e que não existe realidade melhor do que aquela em que ele participa e ajuda a transformá-la. Aí sim toda a nossa juventude terá, verá e construirá outra realidade e, apesar desta que esta posta aparecer aos meus olhos um pouco difícil de mudar eu não desisto e fico com a música do Gonzaguinha que diz no inicio de sua canção - E vamos a luta - EU ACREDITO É NA RAPAZIADA QUE SEGUE EM FRENTE E SEGURA O ROJÃO, e termina a estrofe dizendo: QUE NÃO TÁ NA SAUDADE E CONSTRÓI A MANHÃ DESEJADA.